A FLEC/FAC anunciou que vai retomar de forma “intensiva a luta armada em Cabinda” e alertou que o enclave angolano é “um território em estado de guerra e que os estrangeiros devem tomar as medidas de segurança adequadas”. Pelo número de militares que Angola mantém em Cabinda e que nos último meses foi reforçado, tudo indica que – embora dizendo o contrário – o Governo está a levar a sério estas ameaças.
Num comunicado a que chama “de guerra”, a Frente de Libertação do Estado de Cabinda – Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC) indica que “nunca quis a guerra e sempre abriu as portas à paz” e que “todas as oportunidades” para a construir foram “esmagadas no sangue por Angola e os seus presidentes Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos e João Lourenço”.
No comunicado, assinado por Geraldo Baptista Buela, chefe da Divisão de Operações Especiais das FAC, o movimento independentista alega a “contínua e crescente militarização de Cabinda pelas Forças Armadas Angolanas (FAA)”.
“Constatando a violenta repressão em Cabinda, tortura e detenções arbitrárias dos jovens cabindeses, a FLEC/FAC reafirma o seu legítimo dever de proteger a população de Cabinda e de a defender contra todos os actos de repressão e agressão”, acrescentou Geraldo Buela.
O anúncio da FLEC/FAC surge num quadro de instabilidade no enclave, que faz fronteira com a República Democrática do Congo e a República do Congo, com a detenção de dezenas de activistas pró-independência, entre eles dirigentes religiosos, registada ao longo deste mês.
Segundo fontes da FLEC contactadas pelo Folha 8, do ponto de vista “estritamente combativo”, os militares das FAC têm reforçado “nos últimos meses a sua preparação”, vendo as suas fileiras “aumentadas com a chega de novos combatentes”, para além de ter sido “substancialmente melhorado e inovado o equipamento bélico à sua disposição”.
“Também do ponto de vista da estratégia combativa estão a ser implementadas novas abordagens, para as quais – aliás – foram treinados novos combatentes”, referiu a mesma fonte. “Temos não só mais combatentes como muito melhor armamento”, concluiu.
Na terça-feira, o Governo angolano confirmou a existência de detenções de membros de um “autodenominado movimento independentista” em Cabinda, que “pretendiam alterar o quadro institucional de unicidade” de Angola, pelo que o processo corre os trâmites judiciais.
Na ocasião, o ministro do Interior angolano, Ângelo Veiga Tavares, indicou que a situação no enclave de Cabinda “está tranquila” e que os respectivos processos estão “em segredo de justiça”, pelo que resta agora aguardar pelas decisões judiciais.
“A situação de Cabinda está tranquila. Surgiu um autodenominado movimento independentista que, pela própria designação, vê-se que é um movimento que pretende alterar o quadro institucional de unicidade do Estado. Tiveram alguns procedimentos que feriram a lei e está um processo a decorrer, respeitando todos os princípios e que já mereceu tratamento por parte do Ministério Público, que está a conduzir o processo”, acrescentou.
Ângelo da Veiga Tavares disse não ter presente o número de detidos, assegurando, porém, serem menos dos cerca de 70 denunciados ao longo deste mês pelo Movimento Independentista de Cabinda (MIC) e pela FLEC/FAC, que indicou terem sido detidos também oito membros do Ministério Profético Cristão de Angola (Igreja MPCA), entre eles o pastor João Paulo, “profeta” que “defende abertamente a justa luta pela autodeterminação do povo cabindês”.
Neste último “comunicado de guerra” a FLEC-FAC refere ter acreditado que Angola “poderia estar disponível para dialogar, negociar e construir a paz para Cabinda, que com o novo Presidente angolano, João Lourenço, “a situação poderia mudar” e que a comunidade internacional, a ONU, União Europeia e União Africana “poderiam optar pela paz” no território.
“A FLEC-FAC, acreditando no diálogo e numa solução pacífica para a Guerra em Cabinda, lançou vários apelos ao presidente angolano João Lourenço que nunca foram respondidos”, argumenta-se ainda no comunicado, que surge acompanhado por um vídeo em que um grupo de militares está reunido em parada num local não identificado e no meio de densa vegetação.
A FLEC, através do seu “braço armado”, as FAC, luta pela independência do território, de onde é extraída grande parte do petróleo angolano, alegando que o enclave era um protectorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano.
Recorde-se que, como o Folha 8 noticiou terça-feira, a FLEC/FAC endereçou uma mensagem ao presidente do Parlamento Europeu, ao Presidente de França e ao Presidente em exercício da União Africana, alertando-os para o explosivo drama vivido em Cabinda.
Nessa mensagem a FLEC dizia que “a manipulação da verdade, as detenções arbitrárias e outros tipos de intimidação só aumentarão o sentimento de tensão num território já em conflito, em vez de dar uma solução política a um problema político”, acrescentando que “já é tempo de a comunidade internacional intervir em Cabinda”.
“Vamos continuar a denunciar a falta de vontade das autoridades angolanas para resolver o diferendo através do diálogo e que que a FLEC/FAC vai continuar a exigir a libertação incondicional de jovens activistas, sendo nosso entendimentos que as Vossas instituições devem pedir às autoridades angolanas o respeito do direito dos cabindas de escolher o destino de seu território”, escreviam na referida mensagem.
Folha 8 com Lusa